Não sei mais lidar com a raiva. Ando rabugenta e chorando. Tenho raiva de tudo e de qualquer coisa. Me odeio cada vez mais. Odiei minha Mãe por dias quando ela sugeriu comemorar o que eu nunca comemorei. Odeio o natal, felicidade nunca teve um bom sinônimo para mim. Odeio quem deseja o meu melhor. Acho que já tive raiva de todas as pessoas que eu conheço. Ninguém entende o que eu digo quando falo sobre cansaço. Todas as vezes que fui sincera, me arrependi da minha transparência. Só me dão as respostas que eu nunca pedi. Eu sou horripilante por dentro. Agradeço quando lembro que os meus pensamentos nunca tiveram uma forma física. Tenho uma alma feia repleta de coisas feias, mas, mesmo assim, nunca pedi piedade a ninguém, e não gosto de quando insistem em me confortar, também nunca pedi conforto. Pensar em um futuro melhor só me assusta, porque conheço o tempo como objeto de tortura. Ter tempo é dar voz a minha ansiedade, e quando escuto, imploro pelos meus momentos finais. Queria ter deixado de existir há muitos anos. Eu não tenho sonhos para levar. Estou vazia. Sinto cada vez mais vontade de ficar só quando percebo que a amargura é só minha. Não acho que um dia vou ser feliz. Não quero felicidade, tudo o que me preenche é medo, não existe lugar para outros. Tenho medo de me curar e mudar quem eu sou. Não podem tirar tudo de mim. Não podem tirar eu de mim. Se sou triste, não há como ser outra coisa. Eu me construí com base na minha tristeza e vou morrer com ela. Pensar que estou perdendo o controle é o mesmo que raciocinar que estou perdendo a minha pureza e capacidade de ser boa. Minha salvação quem traz é a Morte. 

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